Archive for the ‘Sem categoria’ Category

Joyce. Light of my life, fire of my loins. My sin, my soul.
22 de Novembro de 2010
«a rose / By any other name» #4
13 de Fevereiro de 2010Dois momentos brilhantes, um pela sua comicidade, outra pelo seu realismo cruel: quando os monges tentam chegar a acordo sobre a pobreza de Cristo, a discussão exalta-se de tal modo que desatam ao soco; a manipulação da linguagem pelo inquisidor e o terror inspirado no acusado pela tortura combinaram para que se encontrasse uma confissão que satisfizesse os juízes – ser falsa ou verdadeira é questão de perspectiva (vide a citação anterior).

Pedro salvando Inês
13 de Fevereiro de 2010Pedro foi, em simultâneo, carrasco e salvador de Inês. Deixo de lado os encantamentos macabros da história. Pedro podia ter salvo Inês da morte: pelo clima político, podia adivinhar o destino que Afonso IV preparava. Alguns diriam que, se realmente a amasse, Pedro a teria deixado viver. Consideram assim que o Príncipe não tinha mais que uma doentia paixão carnal pela dama espanhola e que, mais tarde, se tornou obsessão e psicose. Por outro lado há os que acreditam na ingenuidade de Pedro. E há um terceiro grupo que sugere que Pedro não foi ingénuo e que, dando-lhe a morte, salvou Inês na imortalidade. De facto, quantas amantes de reis portugueses sobreviveram ao tempo na boca do povo? Três hipóteses, todas com o seu quê de romântico (a loucura, a inocência, a imortalidade). A fusão das três narrativas resulta em algo de brilhante: a salvação de Inês do limbo do esquecimento e a tentativa eterna da redenção de Pedro.
Suscitado por isto.

O eterno revisor
15 de Julho de 2009O acontecimento literário de 2008 foi o lançamento de um novo Herberto Helder. A Faca Não Corta o Fogo, edição de 2000 exemplares* (que são quase dois mil exemplares a mais em relação ao que um livro de poesia vende habitualmente) esgotou em poucos dias e foram muitos os que ficaram desesperados por não conseguirem um exemplar (grupo onde, triste, me incluo).
Mas eis que chega 2009 e com ele uma notícia que até nem era imprevisível. Lança-se Ofício Cantante, a nova poesia completa do autor português, que toma o título emprestado da primeira reunião dos seus trabalhos, editada em 1967 pela Portugália.
Como criticar Herberto, (leia-se em criticar um humilde ler) quando tantos e tão melhores do que eu tentaram e falharam? E mesmo os poucos habilitados a não falhar sentem e admitem o peso da tarefa. É, para mim, impossível encontrar falhas ou exaltar a perfeição no poeta que eternamente se revê a si próprio, limando, trabalhando, depurando cada verso, insistentemente. Essa perfeição, que de tão perseguida, ao mais simples significante faz corresponder significados quase impensáveis: “A menstruação quando na cidade passava / o ar. As raparigas respirando” (p. 196).
“Há dias em que basta olhar de frente as gárgulas / para vê-las golfar sangue” (p. 364) e há dias em que quase tenho medo de abrir Ofício Cantante porque me sei incapaz de sentir o eterno poema contínuo que é a obra herbertiana: “não tenho / o dom de um paraíso de avencas rutilando / ao frio” (p. 461). E sem dar por isso, abro-o, percorro-o, sentindo-me mais pequeno a cada página, mais insignificante a cada verso perante o génio (sou dos que exultam Heberto, talvez por me saber pequeno, e não dos que o negam, talvez por inveja de admiração) que não é simples génio mas proletário incessante na fabricação do poema.
Sem dar por isso, chego ao derradeiro verso, “abrupto termo dito último pesado poema do mundo” (p. 618). De cada vez que o faço, pergunto-me: como ler o maior poeta vivo da língua portuguesa?
*Na verdade, segundo me diz o Changuito, a edição não foi de 2000 exemplares mas de 3000.
Crítica a Ofício Cantante, de Herberto Helder para a edição do JUP de Junho (pode ser consultada aqui).

agradecimento #7
1 de Julho de 2009Ao Clube Literário do Porto, por publicitar esta boa nova, agradeço.