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Um Poeta no Sapato

31 de Outubro de 2009

A última Quinta de Leitura foi brilhante. Fica um dos poemas que, como dito, brilhou na noite, de A. Pedro Ribeiro.

E cá está o poeta de café, só, diante da folha que já não é branca. E cá está o poeta a olhar, a ver se gajas que o entusiasmem, que o façam cavalgar. As gajas boas são as musas que lhe dão tesão, que o fazem sair da letargia. Mesmo que nunca as conheça, que nunca fale com elas, o poeta depende das gajas. São elas que se insinuam, são elas as ancas que gingam, são elas as mamas que abanam. O poeta sem as gajas não é nada. O poeta não cria, o poeta não escreve, o poeta não vibra sem as gajas. O poeta pensa no assunto e bebe. Bebe cada vez mais, fino após fino mas as gajas boas não aparecem. Só entram gajas feias e engravatados. O poeta aborrece-se e bebe. Bebe, bebe, bebe, até que rebenta.
– A culpa é vossa, gajas boas,
só aparecestes agora que o poeta está rebentado, feito em pedaços
olhai que perda para a Humanidade
olhai que se tivesses aparecido a tempo
o poeta teria escrito a obra imortal
de agora em diante ide, ide pelos campos
à procura dos poetas
ide dar-lhes de comer e de beber
a vida dos poetas está na vossa mão
e nas vossas mamas
e na vossa pássara
sede dignas dos poetas, ò gajas boas.