Um leitor confessa-se: compro na Feira do Livro, guardo os livros mais caros para comprar na feira, dificilmente compro algum livro nos dias imediatamente anteriores à feira. Não há como negá-lo, para um orçamento limitado, a feira do livro é uma benção. Em que outro sítio conseguiria comprar a edição de capa dura de Anna Karénina da Relógio D’Água por 20 euros?
Da mesma maneira que, para livros fáceis de encontrar, prefiro as grandes livrarias, como a Bertrand, que me podem dar descontos de 10%, ou mais, em alguns dias. Não me envergonho disso, o consumidor tem o direito de procurar o negócio mais vantajoso.
Mas Jaime Bulhosa tem toda a razão: as livrarias independentes sofrem com a Feira, bastante. Uma associação livreira que não protege os livreiros não tem lugar. Isto preocupa-me. A cada edição, a feira torna-se mais monopolizada pelos grandes grupos. Primeiro a Praça Leya, o ano passado somava-se-lhe a da Porto Editora, este ano, pelo que percebo, a Babel também terá direito a destaque. Os stands destes grupos são despidos de fundos de catálogo, e mesmo o desconto, que se esperava elevado, raramente passa dos 20%, mesmo para os livros que legalmente poderiam ter descontos superiores (com as excepções dos livros do dia). São pouquíssimas as editoras que disponibilizam livros manuseados a preço reduzido (a Relógio D’Água, por exemplo). A Feira do Livro ainda tem coisas boas, mas parece-me que cada vez mais se está a transformar numa gigantesca campanha de marketing, ou numa daquelas estantes que a Fnac vende para exposição de livros. É que não são só as pequenas livrarias que são prejudicadas por este cenário: não tardará o leitor a pagar o preço da monopolização.
No ano passado, enquanto editor de cultura do JUP, publiquei um artigo sobre esta questão, da autoria de Igor Gonçalves. Podem lê-lo aqui (pp. 22-23).
Em mim todas as afeições se passam à superfície, mas sinceramente. Tenho sido actor sempre, e a valer. Sempre que amei, fingi que amei, e para mim mesmo o finjo.
Pessoa, Fernando / Soares, Bernardo
2006 Livro do Desassossego, ed. Richard Zenith [Obra Essencial de Fernando Pessoa], p. 233.
Meu filho. Não é automatismo. Juro. É jazz do coração. É
prosa que dá prêmio. Um tea for two total, tilintar de verdade
que você seduz, charmeur volante, pela pista, a toda. Enfie a
carapuça.
E cante.
Puro açucar branco e blue.
CÉSAR, Ana Cristina
1982 «Este livro»; ed. ut.: in Um Beijo que Tivesse um Blue. Antologia Poética, Ana Cristina César [selecção e prefácio de Joana Matos Frias], Vila Nova de Famalicão, Quasi, 2005, p. 101.
Anunciado o lançamento de Caim, de José Saramago. Pelo título já se adivinha mais uma nova leitura de um episódio bíblico (cf. O Evangelho Segundo Jesus Cristo). Ler o texto de apresentação de Pilar del Rio aqui.
quando sugeria O Som e a Fúria como uma boa leitura. Não é apenas uma boa leitura; não é apenas um livro para ser lido em qualquer altura do ano; é um livro fabuloso. Uma narrativa compulsiva, obrigatória, desorientadora, explosiva, ácida. Odeio-me por não ser capaz de, neste momento, vos transmitir tudo o que este livro é; talvez nunca seja capaz, talvez ninguém seja. Não conheço nenhum adjectivo civilizado com a força suficiente para lhe ser adequado. A linguagem vernacular tem a força mas não tem a classe. Servir-me-ei de uma mescla das duas para dizer a toda a gente, bem alto, que O Som e a Fúria é um livro brilhante comò caralho!