Posts Tagged ‘Sena’

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Feira do Livro do Porto #1

6 de Junho de 2010

Saldo:

Os Lusíadas, Luiz de Camões, ed. António José Saraiva, Figueirinhas. 33€ (preço original 110€)

Decameron, Boccaccio, Círculo de Leitores. 5€ (usado)

Sobre Literatura e Cultura Britânicas, Jorge de Sena, Relógio d’Água, 5€ (manuseado, preço original 17.50€)

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Sinais de Fogo #12

19 de Maio de 2010

Terminei o grandioso livro. Sem dúvida, assistimos ao desflorar de Jorge. O que fica imperceptível é qual a transformação que nele terá tido maior impacto: a súbita consciência do mundo social (guerra espanhola e a asfixia da ditadura), o encontrar do amor transcendente (com Mercedes), a ligação profunda e confusa desenvolvida com outro ser humano (Luís), a consciência da influência de cada um na vida do outro — ainda que cada um seja, simultaneamente, o único responsável por si próprio (Rodrigues), o desflorar da veia poética; enfim, numa palavra, Sinais de Fogo é a consciencialização de que no man is an island. E, ao mesmo tempo, não é nada disso e é muito mais que isso.

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Sinais de Fogo #11

19 de Maio de 2010

Sinais de fogo, os homens se despedem,
exaustos e tranquilos, destas cinzas frias.
E o vento que essas cinzas nos dispersa
não é de nós, mas é quem reacende
outros sinais ardendo na distância,
um breve instante, gestos e palavras,
ansiosas brasas que se apagam logo.

SENA, Jorge de
1979 Sinais de Fogo; ed. ut.: Porto, Público, p. 462.
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Sinais de Fogo #10

19 de Maio de 2010

Mas, entre mim e a inocência de estar com os outros, haveria, daí em diante, não um muro de palavras sentimentais e consoladoras como da poesia de que eu não gostava, mas um vácuo frígido, feito da eventualidade de elas criarem um sentido e uma relação em tudo, se eu deixasse que elas aparecessem. Era como se uma última virgindade que só alguns por acaso perdem me tivesse sido tirada, e eu ficasse isolado, contraditoriamente e irremediavelmente, sujo de essencial pureza, de tudo e de todos.

SENA, Jorge de
1979 Sinais de Fogo; ed. ut.: Porto, Público, p. 519.
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Sinais de Fogo #9

16 de Maio de 2010

Brandamente, [o Rodrigues] empurrou-me um pouco pelo corredor adiante, e agachou-se diante de mim. Fechando os olhos, senti-me coberto de suor frio. Ouvi-lhe a voz: — Com que então foi com isto que a fizeste tua? — Não respondi, e ainda que quisesse não poderia. Esperei. Não aconteceu nada. E foi com alívio que ouvi a voz dele junto da minha cara, e abri os olhos: — Tens isso sujo de merda. Lava-te primeiro.

SENA, Jorge de
1979 Sinais de Fogo; ed. ut.: Porto, Público, p. 429.
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Sinais de Fogo #8

11 de Maio de 2010

Aviso à navegação (isto é, quem não leu e não conhece o enredo de Sinais de Fogo): sempre que falo em Jorge, não me refiro a Jorge de Sena, autor, mas sim a Jorge, narrador autodiegético.

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Sinais de Fogo #6

11 de Maio de 2010

Ainda sobre o primeiro encontro sexual de Mercedes e Jorge — o entusiasmo do narrador deve-se:

a) Hipótese ultra-romântica: ao amor inesgotável que unia os amantes;
b) Hipótese ultra-cínica: a Mercedes ser a noiva de outro homem.

Hipótese mais provável: somewhere in the middle.

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Sinais de Fogo #5

10 de Maio de 2010

E, mesmo que soubesse, eu podia sabê-lo, como de tudo, de três maneiras: por me contarem, por eu ter assistido, ou por eu ter participado. Quando não tivesse participado em alguma coisa, mas ouvido ou visto, o que me dissessem, ou o que fizessem diante de mim, seria exactamente a verdade?

SENA, Jorge de
1979 Sinais de Fogo; ed. ut.: Porto, Público, 2003, p. 235-236.

A subjectividade do real é aqui perfeitamente problematizada por Jorge: se não fiz, como posso acreditar naquilo que vi ou ouvi? Os sentidos enganam. Falta-lhe ainda perceber que o real também foge àquilo que se faz: exemplo disso é a orgia de uma das noites anteriores que é sempre recordada como se tivesse sido vivida por outro, esfumada e irreal. O que é o real?

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Sinais de Fogo #4

9 de Maio de 2010

E, de repente, senti que, para além da identidade em que todos se diferençavam uns dos outros, uma coisa estava acontecendo, acontecera naqueles poucos dias, na acumulação de coisas que haviam desabado sobre mim: tudo desabava numa desordem sem fronteiras nítidas e passava a ter o valor que cada um lhe desse. Isto, porém, era ainda um segredo de cada um.

SENA, Jorge de
1979 Sinais de Fogo; ed. ut.: Porto, Público, 2003, p. 189.

Novo sinal de amadurecimento intelectual de Jorge: percebe, finalmente, que não há fronteiras no mundo, que não há «incólumes» e «marcados», mas que cada um é a sua própria desordem.

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Sinais de Fogo #3

9 de Maio de 2010

Nunca sentira, nem mesmo nos momentos de maior satisfação, nada de semelhante à sensação de total domínio, que fora a minha ao possuí-la. E tinha sido, ao senti-la estremecer e gemer comigo, como se a virgindade dela se tivesse refeito, precisamente quando e porque eu a possuía.

SENA, Jorge de
1979 Sinais de Fogo; ed. ut.: Porto, Público, 2003, p. 183.
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Sinais de Fogo #2

9 de Maio de 2010

Jorge está no ponto sem retorno. Não se trata propriamente da perda da inocência — já não é virgem — mas antes o nascimento do homem adulto. O encontro com Mercedes não é uma iniciação sexual — não é sequer um encontro sexual. É a sobreposição física dos vários planos do romance: a guerra, o sexo, a maturidade, o amor, o conhecimento, a poesia.

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Sinais de Fogo

4 de Maio de 2010

Não consegui resistir. Não queria comprá-lo já — o dinheiro não abunda — mas não consegui resistir. Na minha incapacidade de regateio, ainda tentei um «e não há hipótese de me fazer a cinco euros?». A resposta veio rápida: «Cinco euros? É Jorge de Sena!». Pensei: «Com esta calaste-me», paguei o que me pediam, trouxe o livro comigo. E mesmo sabendo que não tenho tempo nenhum para ler, acho que não vou resistir a começá-lo hoje mesmo.

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novamente sena

19 de Junho de 2009

Diz a Joana que hoje regressa o programa Grandes Livros com Sinais de Fogo, de Jorge de Sena. Além disso, sabe-se que o corpo do poeta, ensaísta, ficcionista, dramaturgo (entre tanto mais que se lhe poderia atribuir) retornará a Portugal. A ler no Público.

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sena na biblioteca nacional

17 de Junho de 2009

O espólio de Jorge de Sena será doado na próxima quinta-feira, numa cerimónia que contará com a presença do ministro da Cultura, à Biblioteca Nacional.

Ler mais no Expresso.

Ler também no Rascunho.

Via Blogtailors